sexta-feira, 19 de outubro de 2012

6 erros mais comuns de quem investe em fundos


Caros,

Segue um artigo retirado da exame.com, que achei muito bom. Trata de diversos aspectos a serem considerados no investimento em fundos, e demonstra que grande parte de nós pode estar em uma furada...

Abraços!


Ignorar custos e a composição da carteira, caçar rentabilidade e comparar fundos não comparáveis: veja os erros mais comuns de quem busca fundos de investimento

São Paulo – Os fundos de investimento são ideais para o investidor pessoa física que não tem tempo ou volume de dinheiro para gerir uma carteira diversificada. Mas a aparência simples desse tipo de investimento pode ser enganosa, havendo alguns erros os quais convém evitar. Especialmente em tempo de juros básicos reduzidos e estáveis, a rentabilidade fica muito sacrificada e torna-se mais difícil bater a inflação se o investidor não tomar alguns cuidados.

Veja a seguir os erros mais comuns de quem investe em fundos de investimento:

1. Ignorar as taxas de administração

As taxas de administração dos fundos brasileiros são altas, em média, para um cenário de juros baixos como os atuais. Na hora de escolher um fundo para investir, esse custo deve ser levado em conta, muito embora o histórico de rentabilidade já seja apresentado líquido de taxas. Para o especialista em fundos Bolivar Godinho, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Fundação Instituto de Administração (FIA), uma taxa em conta para um fundo de renda fixa conservadora no cenário atual é de menos de 1% ao ano. Para fundos de ações e multimercados, o ideal seria algo inferior a 2% ao ano.

A realidade é dura para o pequeno investidor. Os dados da Anbima, entidade representativa do mercado de capitais, mostram que as taxas de administração médias dos fundos de varejo em agosto foram de 1,25% ao ano para os fundos DI, 1,09% ao ano para os de renda fixa, 1,86% ao ano para os multimercados e 2,23% ao ano para os fundos de ações. Para alcançar o patamar ideal indicado pelo professor Bolivar Godinho seria preciso investir em um fundo com taxa inferior à média de mercado em três das categorias.
Não que isso seja impossível. Já existem fundos DI e de renda fixa com baixa aplicação inicial e taxas de administração de 1,0% ao ano ou menos, mas realmente não são muitos. Para quem já investe em um fundo caro, a migração para um fundo mais barato é vantajosa, desde que respeitados certos parâmetros.
De acordo com cálculos feitos pelo professor Bolivar Godinho, com a Selic atual de 7,25%, a diferença entre a taxa de administração do fundo mais caro para a taxa de administração do fundo mais barato deve ser de, no mínimo, 0,53% para a migração valer a pena em qualquer cenário. Isto é, respeitando-se essa diferença mínima, não importam nem a faixa de IR em que se encontram os aportes transferidos, nem o prazo de resgate desse dinheiro do novo fundo. Ou seja, migrar de um fundo que cobre 2,0% ou 1,5% ao ano para um que cobre 1,0% ao ano vale mesmo a pena.

Milhares de investidores brasileiros poderiam aproveitar a estratégia e fazer um negócio melhor ainda. Há mais de 200.000 cotistas em fundos DI que cobram taxas de administração de 4,0% ao ano ou mais e que poderiam migrar seus recursos sem medo para um fundo consideravelmente mais barato. Dois dos maiores fundos DI brasileiros também estão entre os mais caros: um tem mais de 160.000 cotistas e cobra 5% ao ano e o outro tem cerca de 370.000 cotistas e cobra 3,90% ao ano (mas já cobrou, no passado, 4,50%).
Só para se ter ideia do impacto da taxa de administração na rentabilidade de um fundo DI hoje em dia, considere um fundo com taxa de 4,0% ao ano que renda, em 12 meses, 100% do CDI com a Selic em 7,25% ao ano. Uma quantia de 10.000 reais aplicada nesse fundo chegaria ao início do ano seguinte (em 13 meses) a 10.285,15 reais líquidos da taxa e do IR com a alíquota de 17,5% válida para aplicações com mais de 361 dias. Uma rentabilidade líquida de 2,85%. A mesma quantia aplicada na poupança teria chegado a 10.545,60 reais, uma rentabilidade de 5,46%, quase o dobro. A taxa de administração alta e o IR comem 260,45 reais no período.

2. Ignorar prazos e objetivos

O objetivo e o prazo do investimento são primeiros fatores a considerar ao escolher um fundo. Quando outros fatores – como rentabilidade ou taxa de administração – se tornam prioritários, o investidor pode escolher o fundo errado, com riscos que sequer compreende. “Ele compara fundos de classes diferentes. Compara o que não é comparável. Isso é básico, mas esse erro é muito comum”, diz o planejador financeiro certificado Fábio Marques, CFP pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF).

Se o objetivo é de curto ou médio prazo, como uma viagem nas férias ou a reforma da casa no próximo ano, de nada adianta investir em um fundo multimercados mais agressivo ou em um fundo de ações, pois a volatilidade das cotas pode fazer o dinheiro faltar bem na hora do resgate. Não há tempo hábil para obter ganhos consistentes com renda variável, e o risco de mercado pode colocar em cheque o objetivo do investidor. Esse tipo de objetivo requer estratégias mais conservadoras.

Da mesma forma, para poupar para a aposentadoria, um fundo DI – mais líquido e seguro – pode não ser o mais indicado para fazer o patrimônio crescer. Um fundo de previdência – que tem incentivos tributários –, um fundo de renda fixa com um pouco de crédito privado e títulos atrelados à inflação e fundos com renda variável podem ser mais adequados. O nível de risco é maior, mas a possibilidade de multiplicação do patrimônio no tempo também.

Há outros problemas: fundos com carência podem ser ótimos e rentáveis para quem tem objetivos de longo prazo, mas quem não prestar atenção nisso e precisar do dinheiro de imediato terá uma desagradável surpresa ao descobrir que a liquidez não é diária, e sim para dali a três, 15, 30 dias ou mais.
Outro problema é o do Imposto de Renda, cobrado semestralmente na forma do come-cotas. Quanto maior o prazo de resgate, menor a alíquota de IR. Portanto, se o objetivo for investir para um prazo curto, de até seis meses ou um ano, por exemplo, certifique-se de que o fundo em questão não só seja conservador – como um fundo DI, por exemplo – como também tenha uma taxa de administração realmente em conta, uma vez que o IR sacrificará boa parte da rentabilidade.

Por exemplo: mesmo um fundo DI com taxa de administração de 1% ao ano perde da poupança quando o prazo de aplicação é inferior a seis meses, e apenas se iguala em rentabilidade quando o investimento tem prazo entre seis meses e um ano. Será que esse fundo é realmente o melhor produto para prazos tão curtos?

Veja a seguir a tabela de IR válida para fundos de investimento:

Prazo da aplicação Alíquota de IR
Até 180 dias 22,50%
Entre 181 e 360 dias 20%
Entre 361 e 720 dias 17,50%
Acima de 720 dias 15%

3. Investir em um fundo de previdência como se fosse um fundo comum

Trata-se de um caso particular de descaso com prazos e objetivos. É comum que grandes bancos ofereçam planos de previdência PGBL e VGBL a seus clientes como se fossem fundos de investimento como quaisquer outros, sempre ressaltando o benefício tributário. No caso do PGBL, é possível abater as contribuições anuais num valor de até 12% da renda tributável, para quem usa a declaração completa de IR; no caso do VGBL não há esse benefício, mas a cobrança do IR só é feita na época dos resgates.
Acontece que esses planos geralmente são caros e só são indicados para quem realmente tem objetivos de longo prazo como a aposentadoria. Além de altas taxas de administração, esses fundos costumam cobrar taxa de carregamento, um percentual sobre cada aporte. Além disso, a tabela regressiva do IR é diferente da tabela regressiva dos fundos comuns.

A menor alíquota é de 10%, obtida após 10 anos de aplicação, o que é uma vantagem, tendo em vista que nos fundos comuns a menor alíquota é de 15% após dois anos. Contudo, enquanto a maior alíquota nos fundos comuns é de 22,5%, nos fundos de previdência há alíquotas de 35%, 30% e 25%, penalizando quem faz resgates antes de seis anos de aplicação.

Mesmo quem tem a aposentadoria como objetivo deve tomar cuidado com as taxas altas de PGBLs e VGBLs. Já quem tem objetivos de prazos mais curtos – como uma viagem, o casamento ou a compra de um carro – deve ficar bem longe desse tipo de produto.

4. Priorizar rentabilidade

“Rentabilidade passada não representa garantia de rentabilidade futura”. Esta frase e suas variantes são lugares-comuns do mercado de capitais e vêm estampadas em todos os prospectos de fundos. Mas na hora de escolher um produto para investir, é fácil se deslumbrar com o bom desempenho de um fundo no passado e acreditar que ele vai se repetir indefinidamente.

Há dois problemas neste raciocínio: o primeiro é que, de fato, os acontecimentos que fizeram aquele fundo ter bom desempenho no passado podem não se repetir, e fundos de renda variável são particularmente sensíveis a essa questão. Um fundo setorial pode ter uma performance excepcional nos meses em que aquele setor se beneficiou de determinada conjuntura econômica e sofrer se o governo decidir, por exemplo, mexer no marco regulatório do setor.

Isso ficou bem claro em setembro deste ano, quando a mudança no marco regulatório do setor de energia elétrica afetou negativamente os fundos setoriais energéticos e os fundos de dividendos, altamente concentrados em papéis desse tipo de empresa. Segundo a Anbima, em um mês em que o Ibovespa fechou em alta de 3,70%, enquanto o Índice de Energia Elétrica desabou 9,07% e os fundos de dividendos recuaram 1,29%.

O segundo é que fundos que dão lucros extraordinários e que, com isso, continuam captando dinheiro e crescendo desenfreadamente podem não trazer lucros tão grandes no ano seguinte, justamente porque crescer tanto sobre uma base maior se torna mais difícil, como se fosse uma espécie de inércia. Esses fundos também podem, com os novos recursos, inflar os tipos de ativos que compõem sua carteira, acarretando uma alta de preços que não se manterá lucrativa por muito tempo.

Especialistas em Finanças Comportamentais descrevem esse fenômeno da busca desenfreada por retornos como “dinheiro burro”, e esse tipo de fundo, que cresce demais por ter desempenhos brilhantes, como “fundos quentes”. O professor Bolivar Godinho alerta: o importante é ter consistência no histórico. “Se em um ano o fundo é o campeão cinco estrelas e no outro é o pior, não adianta nada. É melhor ser apenas um fundo bom por um período maior”, explica.

Quem busca retornos incessantemente e costuma migrar recursos de um fundo para outro ainda por cima será penalizado com o pagamento de mais IR, caso resgate os recursos antes de dois anos.
5. Não conhecer os ativos da carteira e pensar que está mais diversificado do que de fato está
Conhecer os ativos em que um fundo investe e acompanhá-los enquanto cotista é importante para o investidor conhecer exatamente o tipo de risco que está correndo. E não custa nada fazer isso. No site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), na área “Fundos de Investimento”, na seção “Acesso rápido”, é possível buscar os fundos por nome ou CNPJ e conhecer, item por item, sua carteira até o último dia útil do mês anterior.

Essa ferramenta permite, por exemplo, saber se um fundo está superexposto a determinado setor da Bolsa ou estratégia, muito embora continue respeitando seu regulamento de fundo aparentemente diversificado.

6. Não acompanhar os passos do gestor

A figura do gestor certas vezes é crucial para o desempenho do fundo. “Se o gestor tem um histórico consistente e deixa a gestora, não é um indicativo para resgatar os recursos, mas é um ponto de atenção. Mas muitas vezes muda o gestor e a equipe se mantém sem prejuízo da performance”, explica o CFP Fábio Marques.

Julia Wiltgen, de Exame


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